não somos deleuzianos

Não somos deleuzianos: Da impossibilidade da aplicação do adjetivo “deleuziano”: não somos deleuzianos: da impossibilidade de aplicação

É impossível ser “deleuziano”. Uma coisa assim seria um assassinato, ou no mínimo uma traição. Um disparate, sem a elegância do paradoxo. A filosofia de Deleuze é a insistência na filosofia como criação de conceitos, é criação. Se faz algum sentido estudar os filósofos do passado é para lhes roubar, ingerir e metabolizar, fagocitar e tornar outro. A utilidade e graça de estudar um filósofo de outros tempos é a da possibilidade de destacar algum conceito seu de sua filosofia e reutilizar no nosso problema, torcê-lo até caber no nosso trabalho sobre nossas questões. Algumas partes se repetem, em busca de diferença, outras já nos surgem distorcidas ao ponto monstro, são outras criações, outras tentativas de pensamento, ensaios. E esse movimento, sim, nos mobiliza, nos faz girar e insistimos nesses percursos de pensamento. Remendados loucos.

Alguma coisa como “ser deleuziano” seria impossível, portanto, por duas razões: pelo “deleuziano” quando significa não esse movimento criativo de pensamento que destaca e remenda e borda por cima, mas entendido como reprodução   palavras/conceitos/bláblás, reprodução de percepções e pensamentos, reduzindo a vida a mundos regurgitados e: impossível também pelo “ser”, que remete a uma essência, uma substância à qual se deve fidelidade, o que é nada na filosofia de Deleuze, algo que ficou nas profundezas dos profundos enquanto a vida passou intensa e rápida, na superfície.

 

 

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SUB-VERSÕES

Queremos usar estes dois vocábulos conectados por um hífen: sub-versões, no sentido de versões menores, ou seja, versões que façam a enunciação coletiva de uma minoria.

O sentido que normalmente encontramos para subverter é, via de regra, um sentido negativo, de destruição. Os significados  convergem para o sentido de negar, de oposição a algo para destruí-lo. No entanto, estamos pensando em sub-versão como criação, ou seja, como uma ação positiva. Que sejam sub-versões por elas mesmas, não sendo reação, não condicionando sua existência a algo a que se opor. Seriam, portanto, sub-versões afirmativas, afirmativas da vida, criações de re-existências.

Assim sendo, podemos assumir também outros significados de versão e versar. Versar pode significar fazer estudo minucioso, examinar, (hack), fazer exercício ou treino, tratar de um assunto, assim como também pode ser pôr em versos.

Entendemos que a criação de sub-versões é  ato de resistência como re-existência, insistência em existir, afirmação da vida. Resistência que pode ser alegre, que é sim oposição aos mecanismos e dispositivos do capitalismo financeiro que reiteradamente se lançam contra nós nos suprimindo a vida, mas esta oposição não é termo a termo, não se dá no mesmo plano, por isso pode ser de dentro criando o fora. Criação de sub-versões como invenção de novas armas.

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citação- tratado de nomadologia…pg 71 (lembrada por Laisa Guarienti)

“É verdade que os nômades não têm história, só tem uma geografia. E a derrota dos nômades foi tal, tão completa, que a história identifica-se com o triunfo dos Estados (…) Dificilmente se entende como os nômades teriam tentado destruir as cidades e os Estados, não fosse em nome de uma organização nômade e de uma máquina de guerra que não se definem pela ignorância, mas por suas características positivas, seu espaço específico, sua composição própria que rompia com as linhagens e conjurava a forma-Estado. A história não parou de negar os nômades” (Deleuze e Guattari)

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… (por Alda Romaguera)

ler com o corpo todo e se deixar afetar e produzir pensamentos em pulsos. pensamentos que se transpassam por forças criativas e se desenham em indefinidos contornos, que não se prestam a traçar caminhos nem receitas, mas querem provocar porosidades no quase monolítico bloco de ideias que transitam nos espaços de educação. pensamentos que movimentam conceitos resistindo à forma-modelação por singularidades incorpóreas, vida não orgânica que pode se manifestar nas linguagens, que escapa. Escapa ao proceder por disjunção inclusiva, aproximando termos desacostumados e contraditórios, paradoxais, que no plano educacional se estranhem e criem des-certezas. Escapa ao abrir espaços de intervalo para penetrar no entre, manifestar vontades de pensar onde parece não haver pensamentos; nas fendas das práticas pedagógicas não aceitar significações, antes a-significar; nas fissuras do aprisionamento do plano educação, hiatar, abrir brechas e criar cisões nesta/desta palavra. Escapa ao vazar para fora das margens da ordem orgânica, do natural ou naturalizado das palavras-coisas da educação, da pesquisa em educação. Escapa ao escolher a conjunção e para compor estranhos encontros, tensionados pelo vazio. Escapa ao criar a possibilidade de hiatar, no intransitivo verbo que substantiva a ação. (Alda Romaguera)

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geografizar o pensamento

Como pensar o contemporâneo no contemporâneo, estar fora e dentro ao mesmo tempo? Para pensar o contemporâneo como um complexo de fronteiras e deslocamentos talvez seja necessário revoltar-se contra o poder absoluto que se atribui ao fato. Não se deixar capturar pelos mecanismos de poder identitários de individuação, que nos paralisam, não se deixar colocar nos fluxos modulatórios de governa-mentalidade, que determinam os percursos e poder assim assumir o imprevisível. Alçar o devir, contra a tirania do real, contra a história: um pensamento geográfico. Chega de história. Geografizar a história, geografizar o pensamento, geografizar a vida. Deleuzeguattarizar: geo-filosofia.

Nossa questão não é apenas como pensar o fora estando dentro. A questão que nos interessa aqui e agora, como interessa uma tábua flutuante ao náufrago que não pára de se debater: como suscitar acontecimentos? Reativar o fora. Vida. Escapar do mundo único. Não só um pensamento geográfico, não só signos, mas também ações geográficas, ações políticas.

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